Não vamos casar !

Detesto casamentos. Detesto particularmente casamentos de Verão. Detesto as filas de carros a buzinar com merdinhas brancas penduradas nas antenas. Detesto a hipocrisia do casamento, do dia, do contrato e da instituição. Se também detestas algumas destas coisas junta-te ao club

sábado, setembro 30, 2006

Dia do solteiro

Hoje foi o dia do solteiro e, sem saber, fiz um jantar comemorativo dele, também foi dia de São Receber, o que para mim sempre exigiu comemoração à letra. Incomoda-me o barulho, o ruído. Comecei hoje a fazer o meu enxoval, não para quando me casar, mas para quando eu comprar e for viver para a minha casa. Para ser totalmente honesta comecei a fazê-lo quando fui viver para a minha casa na Rua da Cale, mas sem sentido de o fazer, agora tenho mesmo vontade de começar a preparar tudo para voar do ninho para o meu próprio beiral. Penso muito em coisas das quais não me devia ocupar, agora de consciência totalmente tranquila. Não me quero extravassar em fraca poesia de metáforas encimesmadas umas nas outras, gostava apenas de poder ser honesta, de lidar apenas com pessoas honestas, utopia desesperada pela falta de verdade nas coisas.

quinta-feira, setembro 28, 2006

A dissidência da fé

Apetecia-me descrever as tumultuosas iras que todos os dias incendeiam as pessoas à minha volta. Nunca o poderei fazer nem mesmo em ficção. Dois dias de descanço pela frente e 36 dias de trabalho para as férias, sonho acordada com elas, infelizmente não posso dizer o mesmo dos sonhos que sonho a dormir.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Morder a língua

Um sinal fechado
Caminho da tranquilidade
Apelo misterioso por piratas
Fantasia boémia de instalação
Uma bolha transparente
Cordilheiras no mar
Aparição das forças maiores
Ferocidade de jogador acossado
Uma caixa de verniz trabalhado
Consciência serena em paz
Avalanche de som e ritmo
Furioso horizonte a ultrapassar
Um tabuleiro de palavras
Ases
Bola
Carta
Dado
Europa
Força
Grande
Harpa
Indignação
Jogo
Limiar
Marear
Naipe
Ostras
Pequeno
Quadrilha
Roleta
Sineta
Tarefa
Urbanidade
Vértice
Xaile
Zumbido
Um astro perdido no céu
Capacidade da ampulheta
Alicerces suavemente vivos
Falácia da exactidão
Uma noite velada por deus
Capricho doce da solidão
Avidez desmesurada pelo todo
Forças da terra e das marés
Um golpe nulo
Copiosa frontalidade da sorte
Amortalhar vontades
Fuga para o paraíso de qualquer costa.

domingo, setembro 24, 2006

Elegia ao Outono

Caiem as folhas
em todas as suas cores
formatos e espécies
as jóias das suas tardes
ouro rubi e ventania
novos caminhos
a inspiração dos piratas
os primeiros frios e chuvas
as aguarelas pintadas
à beira Tejo
o apelo do miradouro
as vozes perdidas
longíquas e impassíveis
certeza do seu ocaso outonal
castelos de cartas destruídos
e puzzles por fazer
bolos de chocolate
livros para ler
palavras novas para usar
independência

"Esquadros

Eu ando pelo mundo
prestando atenção em cores
que eu não sei o nome
cores de Almodóvar
cores de Frida Khalo
cores
passeio pelo escuro
eu presto muita atenção
no que o meu irmão ouve
e como uma segunda pele
um calo, uma casca
uma cápsula protectora
Ai eu quero chegar antes
para sinalizar o
o estar de cada coisa
filtrar seus graus
eu ando pelo mundo
divertindo gente
chorando ao telefone
e vendo doer a fome
dos meninos que têm fome
pela janela do quarto
pela janela do carro
pela tela, pela janela
quem é ela?
quem é ela?
eu vejo tudo em quadrado
remoto controle
eu ando pelo mundo
e os automóveis correm para quê?
as crianças correm para onde?
transito entre dois lados
de um lado
eu gosto de opostos
esponho o meu modo
e mostro
eu canto para quê?
pela janela do quarto
pela janela do carro
pela tela, pela janela
quem é ela?
quem é ela?
eu vejo tudo em quadrado
remoto controle
e meus amigos cadê?
minha alegria
meu cansaço
meu amor cadê você?
eu acordei,
não tem ninguém ao lado
pela tela, pela janela
quem é ela?
quem é ela?
eu vejo tudo em quadrado
remoto controle
eu ando pelo mundo
e meus amigos cadê?
minha alegria
meu cansaço
meu amor cadê você?
eu acordei,
não tem ninguém ao lado
pela tela, pela janela
quem é ela?
quem é ela?
eu vejo tudo em quadrado
remoto controle"
AdrianhaCalcanhoto

sábado, setembro 23, 2006

O Outono chega numa noite de chuva

Hoje foi um dia mau, com alguns dramas, com uma dureza extrema no trabalho, os costumeiros desafios à minha preserverança e uma bela chuvada ao fim da noite. As minhas folgas trouxeram uma bendita mudança ao meu destino de férias, de Angola para Cabo Verde, sim, porque por todas as razões e mais alguma prefiro a Ilha do Sal a Luanda. Ainda falta um mês e três semanas e certamente muitos, longos, duros dias de chuva e frio, muitos insultos e horas de pé, muitas discussões e angústia a rodos. Hoje é um dos dias do ano em que a noite terá precisamente a mesma duração do dia, depois tornar-se-á soberana do Inverno e reinará no meu castelo de solidão, retirando da minha vida a luz insidiosa do dia. Isso não me importa, neste momento só me importa a solidão, a incapacidade para ser feliz, a falta de liberdade e independência e o abandono da poesia. Sinto que a poesia me abandonou, que os meus versos se perdem em prosas prolongadas e caóticas que se despedem em murmúrios sibilantes ao luar. Tenho em mim mágoas razoáveis, pirâmides de sonhos desfeitas, caídas e inertes jazendo no chão, esperanças? nem uma consigo encontrar nem no mais fundo de mim.

quinta-feira, setembro 21, 2006

A vida como um acto de coragem

A vida é um acto de coragem
contínuo, diário, exemplar.
Acordar e decidir começar o dia,
Adormecer e conseguir conciliar o sono.
Conduzir, caminhar, correr,
Trabalhar, ociar, arrumar, limpar,
Comer, beber, chorar e ser feliz,
Tudo actos de corajosa audácia,
que a vida exige involuntariamente,
a cada dia, minuto após horas,
dia após semanas, mês após anos.
Todo o tempo, a vida inteira.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Até que enfim de folga

Há algumas semanas que não sentia tanto necessidade de folgar como esta semana. Não foi dura, foi extenuante. E pelo andar da carruagem palpita-me que não vou descansar nada, estou verdadeiramente farta da minha opressiva falta de independência, a eterna luta entre a necessidade de liberdade e os complexos de culpa. Mais uma vez, assim que me libertei de um problema, o seguinte da lista avulta-se na sua dimensão, mas este requer para a sua solução, condições das quais ainda não disponho, quanto tempo ainda vou ter de suportar isto? A mudança não é urgente ou necessária para ninguém excepto para mim, e para mim não é só urgente e necessária, é essencial, e, desconfio, que não é só uma mudança de ala que resolverá a minha necessidade de espaço e tranquilidade, que aqui não posso ter. Para sobredosar esta minha carência, vejo todos à minha volta a resolverem esta questão, a comprarem casas feitos loucos. Bom eu tenho de ir às compras para fazer sopa(suspiro!)

terça-feira, setembro 19, 2006

Mais uma semana a acabar ("vem querendo ser feliz!")

O mês de Agosto passou rápido e angustiado, trespassou o meu transe oblíquo e desesperado, que iluminava a certeza da eminência da perda. Este mês porém tem sido vertiginoso, entre a a dor que se demora e os acontecimentos que se sucedem, os dias escorrem pela ampulheta como fina areia, correndo para o equinócio. Desta semana apenas falta um dia, passei-a toda numa ansiedade de concluir, renovar, esclarecer, de repente, "não mais que de repente", concluí, renovei e esclareci tudo e agora sinto-me perdida, com o tempo a escorrer-me das mãos como água no chão do deserto. Leio livros, escrevo diários secretos, preguiço pelos meus ócios mentais como um dia de fim de Verão num grande jardim, por entre a magia das folhas que caíem, despedindo-se do Verão e da vida, outras renascerão, para o ano, com o brotar da Primavera. Ouço a mesma música no repeat, faz-me sonhar, alegra-me, fica colada em mim, amanhã vou trauteá-la baixinho, e andar dançando, como se planasse na pauta dos seus ritmos e das doces melodias das suas palavras. E contar os minutos para o fim de mais uma jornada de trabalho.

"Feliz
Vem para misturar
juízo e carnaval
vem trair a solidão
vem para separar
o lado bom do mau
e acalmar meu coração
vem para me tirar
o escuro e a sensação
de que o inferno é por aqui
vem para se arrumar
na minha confusão
vem querendo ser feliz"
Maria Rita

domingo, setembro 17, 2006

Assuntos resolvidos

Agora tenho todos os meus assuntos resolvidos, e um plano. Sei que não é um grande plano e está sujeito a falhar como tantos outros que fiz, sei também que é a renovação de um erro, tão antigo que já o havia esquecido, mas se servir para evitar cair noutro ainda mais grave, já cumprirá o seu papel. Também tenho um plano B, talvez melhor que o primeiro, mas esse assusta-me e não tenho a certeza de conseguir pô-lo em prática, à parte isso, só sonhos desfeitos, desejos por concretizar e um trabalho onde esqueço tudo (a maior parte do tempo, sim porque hoje, e logo hoje! ouvi um sussurro que era a última coisa que eu queria ter ouvido). Sei que ainda passou pouco tempo para poder ter a absoluta certeza da resolução definitiva desta questão, mas a minha vontade reitera-a ainda, por tal esta noite vou dormir descansada e ansiosa pelo dia de amanhã, em que vou começar a realizar o meu plano.

quinta-feira, setembro 14, 2006

O menssenger

Não o tenho, sinto uma estranha sensação de estar indisponível. O menssenger é uma companhia de computador, está sempre lá alguém, ou não. Hoje fui ao cinema (estava mesmo a precisar - habituei-me mal a ver dois filmes por semana) ver um filme fantástico, do Almodóvar, Volver, no original, que é o espanhol para o nosso portuguesinho voltar. Aí está uma coisa que tenho vontade de repetir, para a semana. Ainda não fui trocar o meu bilhete dos Depeche Mode, começo a desconfiar se ainda me vão devolver o dinheiro que paguei por um concerto ao qual, malafortunadamente, não pude ir, por ter sido cancelado. Mas no que eu penso mesmo obcecadamente agora são as praias de Luanda e livros intermináveis à beira-mar.

terça-feira, setembro 12, 2006

Bom dia!

Eu sei que não são bem horas de exclamar bom dia, mas eu estive a dormir até agora, por extrema necessidade de retemperar forças. Sinto-me melhor, apesar de não me sentir bem. Tenho saudades intermináveis das minhas amigas, de estar e falar com elas, de buscar os seus conselhos. Tenho a vida toda de pantanas, mas a noção que lentamente tudo irá tomar o seu devido lugar, sei também que ainda vou penar muito até isso acontecer. Cessei a busca pelo meu castelo, as suas fundações caíram irremediavelmente por terra, partiram-se como telhados de vidro, agora apenas procuro o amor, mas sei que o encontrarei depois do esquecimento.

domingo, setembro 10, 2006

Os dias B

É o pior dia da minha semana de trabalho. São dias compridos até enfastiar. Hoje foi dia B e sendo sexta-feira, saí às três da manhã, para amanhã entrar às três da tarde, aliás, às duas e meia. Como o meu ritmo de sono me impede de dormir antes do amanhecer, vou descansar talvez umas seis horas antes de voltar à loucura do dia-a-dia, que será o dia de amanhã. Pinto as unhas de tom cigana, para tentar esquecer os meus dilemas, mas a consequência não é o esquecimento. Pergunto-me porque que é que as circunstâncias da vida me forçam constantemente a esta luta inglória comigo mesma. Não estou a falar de problemas, esses todos os temos, maiores ou menores, mais tarde ou mais cedo, estou a falar de verdadeiros impedimentos à realização e pessoal e concretização de sonhos de vida, estou a falar de nunca poder vir a ser embaixadora como sempre desejei e de nunca poder ficar com o homem que amo e ter de me submeter à violência que está a ser tirá-lo da minha vida. Fumo porque não tenho razões para deixar de o fazer, porque escrevo, porque estou à espera que o verniz esmalte das unhas seque, o que é uma tremenda seca. Faltam 49 dias de trabalho para ir de férias, talvez mais dois, ou três, conforme as folgas que trocar, tudo indica que vou para Angola, para Luanda, mas ainda me parece tão irreal que penso que apenas irei acreditar quando comprar ao bilhete de avião, mais uma vez, não serão estas as minhas férias de sonho, serão apenas mais umas férias da minha solidão, ainda mais acentuada por este destino e o seu motivo. Ainda faz muito calor, a mudança tarda. Um dos meus vizinhos de cima acabou de acordar e está a fazer um barulho que atordoa este abençoado silêncio da noite.

sexta-feira, setembro 08, 2006

"Mar de Setembro

Tudo era claro:
céu, lábios, areias.
O mar estava perto,
fremente de espumas.
Corpos ou ondas:
iam, vinham, iam,
dóceis, leves - só
ritmo e brancura.
Felizes, cantam;
serenos, dormem;
despertos, amam,
exaltam o silêncio.
Tudo era claro,
jovem, alado.
O mar estava perto.
Puríssimo. Doirado"
Eugénio de Andrade

"Será possível

Seará possível que nada cumpriste?
Que o roseiral a brisa as folhas de hera
Fossem como palavras sem sentido
- Que nada sejam senão seu rosto ido
Sem regresso nem resposta - só perdido"
Sophia de Mello Breyner Andresen

Amar assim, jamais

Somam-se os dias sem ti
fáceis, rápidos,
insanamente distraídos.
As noites, porém,
atropelam-se como acidentes
em hora de ponta.
Temo pela tua insistência
pelas tuas vertiginosas investidas,
sabendo que estas batalhas
não são entre mim e ti,
são entre mim e mim mesma.
Tenho medo dos meus fantasmas
e do poder das emoções.
Sacio a fraqueza da carne
em loucuras ainda maiores
para não capitular por ela.
Destilo a mágoa e a desilusão
em disfarçado desprezo,
ingénuo, tenaz, doloroso.
Quero que deixes a minha poesia
mas ainda persistes, demoras,
arrastas a tua essência
nas ideias e palavras
que tento a todo custo esquecer.

terça-feira, setembro 05, 2006

O fim deste caminho

Foi assim, à porta da minha casa. Saí, bati levemente com a porta e pensei até nunca, sem olhar para trás. Agora basta olhar sempre em frente e enfrentar e vencer o desafio de não olhar, destruir de vez a estátua de sal que há em mim. Amanhã vou começar a calcorrear outro caminho. Em Sesimbra, no meio da última e derradeira vaga de calor deste Verão. Mudei a terra e os vasos às minhas lindas flores, ainda tenho de as ir podar, regar e conversar um pouco com elas, fiéis amigas silenciosas e absolutamente belas. Espero brevemente mudá-las para os novos aposentos na ala norte, onde vou montar o meu castelo de renovação. Já encaixotei os livros, as malas, os cds, arrumei, descobri e livrei-me de roupa, criei espaço, mas ainda tenho muito para trilhar.

domingo, setembro 03, 2006

A revolução do domingar

Sempre me habituei ao domingar e aos seus preceitos instituídos tacitamente pelo hábito contínuo. Pois bem, desde que comecei a trabalhar estas rotinas domingueiras cessaram, em absoluto. Por um lado estou proíbida de cumprir uma parte das tarefas e por outro lado, apenas não trabalho aos Domingos de mês a mês. Ora como seria de esperar os Domingos em que me posso dedicar ao ócio e ao lazer foram remodelados e agora reinvento-me para os aproveitar da melhor maneira, no entanto tenho a sensação de uma tradição para sempre perdida no passado. Interrogo-me frequentemente sobre o rumo pelo qual conduzi a minha vida até agora, ponho em causa as minhas emoções, pois sinto que foram elas que me amarguraram. O meus Domingos são lassos e lânguidos e decorrem numa rapidez indesfrutável, numa ânsia indomável de domingar, não domingando.