Não vamos casar !

Detesto casamentos. Detesto particularmente casamentos de Verão. Detesto as filas de carros a buzinar com merdinhas brancas penduradas nas antenas. Detesto a hipocrisia do casamento, do dia, do contrato e da instituição. Se também detestas algumas destas coisas junta-te ao club

sexta-feira, outubro 31, 2008

falta assim um bocadinho

Deambulo pela vida em alta velocidade, fujo sempre para a frente, ando sempre depressa, como um vício, a adrenalina de provocar vento, contudo não consigo alcançar a felicidade. Por muito que eu corra o mundo, que viaje por todos os continentes, que me aconchegue no cheiro a lenha na aldeia, não consigo sentir-me satisfeita, falta sempre qualquer coisa.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Ases

Dias pródigos cheios de imperativos de gestos
bailarina dócil estreia as suas sabrinas de cetim
os dados acompanham a dança
gueixa impreparada pela fortuna
as suas mãos produzem acontecimentos
mitos que logo se devanecem pela eternidade
aconteceram desde sempre
a memória já não recorda os detalhes
apenas a parede de tijolos de silêncio
a intransponível muralha de vazio

A rota é bola esquerda
sendo posteriormente direita
incapacidade florescida do trabalho
novamente me vejo apartada do meu jogo

Retorno a comandar aqueles pequenos cubos
e a fortuna é nalguns dias infame
resolve-os assim
em ondas insuportáveis
de remorso e pena.

quarta-feira, outubro 22, 2008

"Presente

Queria neste poema a cor dos teus olhos
e queria em cada verso o som da tua voz:
depois, queria que o poema tivesse a forma
do teu corpo, e que ao contar cada sílaba
os meus dedos encontrassem os teus,
fazendo a soma que acaba no amor.

Queria juntar as palavras como os corpos
se juntam, e obedecer à única sintaxe
que dá um sentido à vida;depois,
repetiria todas as palavras que juntei
até perderem o sentido, nessse confuso
murmúrio em que termina o amor.

E queria que a cor dos teus olhos e o som
da tua voz saíssem dos meus versos,
dando-me a forma do teu corpo; depois,
dir-te-ia que já não é preciso contar
as sílabas nem repetir as palavras do poema,
para saber o que significa o amor.

Então, dar-te-ia o poema de onde saíste,
como a caixa vazia da memória, e levar-te-ia
pela mão, contado os passos do amor."

Nuno Júdice

O meu querido frigirífico

Ontem liguei finalmente ao sr. José, o meu antigo senhorio do Fundão, para ir lá buscar o meu frigorífico, qual não é o meu espanto, diz-me o sr josé, "ai a menina nem sabe o que acontecem... aluguei a sua casa a um búlgaro e ele nunca me pagou renda e um belo dia esvaziou a casa e foi-se embora, levou tudo que lá estava". Resumindo e concluindo, só eu tenho o galo de deixar um bem num sítio que considerava seguro, para ele ser roubado por um búlgaro qualquer. Poupo uma viagem ao Fundão mas acrescento uma despesa avultada de primeira necessidade para a minha casa no Lavre, mais uma coisa que eu precisava que me caísse do céu...

quinta-feira, outubro 16, 2008

Tintas

Estou a desesperar para montar a minha casa, escolher tintas é uma tarefa desconcertante, aquela cor que tu imaginaste não existe, mas existem várias muito parecidas, e isto é só o começo. Vou fazer tudo a passo e passo. Pode ser que me caia uma cozinha do céu... nunca se sabe, eu já vi tanta coisa que já estou por tudo, e dava-me imenso jeito.

Finalmente o poema

Tumultuosas avenidas
percorro em passo de gueixa
algo em mim está absolutamente
fora do meu controlo
fora de mim.

Interstícios de luz, de cor, de movimento
consomem-se ávidos de simbioses
em inegualáveis ondas de prazer.

Abismos secretos desordenados
surgem dos meus medos
desobedecem às minhas frustrações
desmontam as defesas
fazem-me sonhar e sorrir

Golpes estonteantes, frenéticos
comandam a acção sucessivamente
num acaso de encontros e desencontros
o jogo e a sorte comandam a vida
com a ajuda de tudo o que possa ser divino.

Ocasos deslumbrantes de perfeição
coloram a pele em tons oníricos
surpreendo-me ainda e sempre
com a magia da cor dos teus olhos.

E tremo...

quarta-feira, outubro 15, 2008

"Apolo Musageta

Eras o primeiro dia inteiro e puro
Banhando os horizontes de louvor.

Eras o espírito a falar em cada linha
Eras a madrugada em flor
Entre a brisa marinha.
Eras uma vela bebendo o vento dos espaços
Eras o gesto luminosos de dois braços
Abertos sem limite.
Eras a pureza e a força do mar
Eras o conhecimento pelo amor.

Sonho e presença
De uma vida florindo
Possuída e suspensa.

Eras a medida suprema, o cânon eterno
Erguido puro, perfeito e harmonioso
No coração da vida e para além da vida
No coração dos ritmos secretos."

Sophia de Mello Breyner Andresen

Acho que estou apaixonada

Ao post 741 estou apaixonada, tremo como se estivesse a morrer de frio, não consigo deixar de pensar nele, não consigo dizer-lhe, apenas o vejo ao longe de passagem, mas a presença dele não me sai da cabeça, faço-lhe mil poemas de amor mentalmente, mas nunca os escrevo.
Não sei como será o dia de amanhã, não sei como vou conseguir comer e dormir e comprar tintas e trabalhar, viver mais um dia assim ainda na doce ilusão.
A lua adensa tudo ferozmente na sua forma plena, consigo sentir o seu magnetismo à flor dos dedos, consigo concentrar-me e ver o brilho do sol até cegar, perturba-me e vai buscar ao mais profundo de mim uma emoção incontida.
Não sei, nem imagino, se pode acontecer, dar-se o caso de ser correspondida e poder ser feliz?

sábado, outubro 11, 2008

Mensagens perdidas 4

Tremendos choques