Os dias B
É o pior dia da minha semana de trabalho. São dias compridos até enfastiar. Hoje foi dia B e sendo sexta-feira, saí às três da manhã, para amanhã entrar às três da tarde, aliás, às duas e meia. Como o meu ritmo de sono me impede de dormir antes do amanhecer, vou descansar talvez umas seis horas antes de voltar à loucura do dia-a-dia, que será o dia de amanhã. Pinto as unhas de tom cigana, para tentar esquecer os meus dilemas, mas a consequência não é o esquecimento. Pergunto-me porque que é que as circunstâncias da vida me forçam constantemente a esta luta inglória comigo mesma. Não estou a falar de problemas, esses todos os temos, maiores ou menores, mais tarde ou mais cedo, estou a falar de verdadeiros impedimentos à realização e pessoal e concretização de sonhos de vida, estou a falar de nunca poder vir a ser embaixadora como sempre desejei e de nunca poder ficar com o homem que amo e ter de me submeter à violência que está a ser tirá-lo da minha vida. Fumo porque não tenho razões para deixar de o fazer, porque escrevo, porque estou à espera que o verniz esmalte das unhas seque, o que é uma tremenda seca. Faltam 49 dias de trabalho para ir de férias, talvez mais dois, ou três, conforme as folgas que trocar, tudo indica que vou para Angola, para Luanda, mas ainda me parece tão irreal que penso que apenas irei acreditar quando comprar ao bilhete de avião, mais uma vez, não serão estas as minhas férias de sonho, serão apenas mais umas férias da minha solidão, ainda mais acentuada por este destino e o seu motivo. Ainda faz muito calor, a mudança tarda. Um dos meus vizinhos de cima acabou de acordar e está a fazer um barulho que atordoa este abençoado silêncio da noite.
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