Não vamos casar !

Detesto casamentos. Detesto particularmente casamentos de Verão. Detesto as filas de carros a buzinar com merdinhas brancas penduradas nas antenas. Detesto a hipocrisia do casamento, do dia, do contrato e da instituição. Se também detestas algumas destas coisas junta-te ao club

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

O referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez

Ainda mais alguns argumentos a favor do Sim. Argumento laboral. A maioria das mulheres portuguesas em idade fértil são mulheres trabalhadoras activas e não matronas parideiras e donas-de-casa que tiveram vida para não fazer mais nada além de criar os filhos, gabo-lhes a paciência, mas nesta altura da história do nosso mundo, nada disto é possível. As mulheres estão desempregadas, ou à procura de emprego, ou à procura de melhor emprego, ou num emprego precário. Quantas mulheres podem dizer que se engravidarem não as despedem, ou se recusam a renovar contrato? Quantas mulheres se podem dar ao luxo de levar a cabo uma gravidez indesejada que sabem que lhes vai custar o seu precário emprego mal pago. Mais uma vez: será que algum dos apoiantes do não se voluntaria para lhes dar uma mesada ou sequer outro emprego?
Um embrião não é uma criança. Não mais do que um embrião que é morto pela pílula do dia seguinte. Não mais que todos os embriões mortos ou impedidos por métodos anticoncepcionais. Parem com o cinismo de uma vez. Parem de dizer que o branco é preto e que ainda se podem salvar muitas vidas. O único resultado de referendo que pode salvar vida é o sim. As únicas vidas que estão em causa aqui são as das mulheres grávidas. As mulheres fazem abortos desde sempre, nunca nenhuma lei conseguiu impedir isso, será que o "movimento pela vida" não se capacita desta realidade?
Por favor vão votar no dia 11 de Fevereiro, todos os votos pelo sim contam, todos os que ainda acham que devem votar não, fiquem em casa, leiam livros, instruam-se, pensei nas crianças abandonadas, mal amadas e que sofrem por todo o mundo. Pensem se as criaças que morrem de fome nos países africanos não deviam antes ter sido abortadas para evitar aquela vida de miséria, sofimento, privação e dor. Lembrem-se que uma criança não tem só direito de nascer, tem de ter direito a viver uma vida condigna, uma vida desejada e acima de tudo ter conforto e segurança até à sua autonomia. Parem com a hipocrisia de uma vez.
E gostava de saber, quanto à santa igreja católica, quantas freiras fizeram abortos e quantas puseram filhos na roda? E padres? Quantos filhos espalharam ou podiam ter espalhado? Deviam estar muito caladinhos e poupar-nos a falsas moralidades.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

O referendo

Nós somos um país triste, governado por homens incautos e irresponsáveis. Todo este enredo teve início quando o sr. Guterres era Primeiro-Ministro e espicaçado pela sua consciência ultra-católica e falta de maiororia na Assembleia da República resolveu colocar a decisão sobre uma questão de Estado nas mãos de um país inculto, ignorante e ainda dominado pelos preceitos das palavras dos senhores priores. Deu buraco na altura e desconfio que dará um buraco ainda muito maior agora. Ora o nosso actual Primeiro-Ministro, tão corajoso para umas coisas e tão pouco para outras, escudado numa maioria parlamentar acrimoniosa, incapazes de chamarem novamente esta decisão a quem de direito (a nossa Assembleia da República), lavaram novamente as mãos deste assunto e aproveitaram para encher os bolsos com subsídios de campanha e gastar rios de dinheiro do erário público num referendo no mínimo descenessário. Eu, incondicional apoiante do sim, temo que isto dê para o torto outra vez. Quem é pela tolerância não possui meios ou argumentos para convencer um eleitorado forjado por caciques e padres e os únicos verdadeiros acicatados por este tema são os histéricos apoiantes da vida a qualquer preço, nomeadamente a Igreja, que no nosso país ainda tem influência sobre bem mais de 50% do nosso eleitorado. Ora, perdoem-me o paradoxo, mas o sim só vai conseguir ganhar esta batalha com um verdadeiro milagre.
No que diz respeito aos argumentos nem sei bem por onde começar, mas atrevo-me a começar pelo argumento clichê: o aborto clandestino, desconheço os números, penso que ninguém os conhecerá verdadeiramente, mas conheço poucas mulheres que nunca fizeram um aborto, e as que os fizeram tiveram mil e uma razões distintas para os fazerem e não foi o facto de ser proíbido que as impediu. Muitas mulheres sofrem na pela as implicações da clandestinidade e acabam nas macas dos serviços de urgência dos hospitais públicos com complicações decorrentes deste procedimento, que feito por profissionais competentes num local apropriado, não passaria de uma pequena intervenção cirúrgica.
Em especial para os histéricos do direito à vida, o argumento das crianças, nascer e viver como uma criança indesejada (seja qual for o motivo) é uma cruz que estes idiotas querem obrigar estas crianças a carregar, não interessa se não existem condições para o criar, não interessa que as mães sejam adolescentes que mal sabem cuidar delas, não interessa que os pais não tenho condiçoes económicas para alimentar, mandar para a escola e estimar mais um filho, não interessa se as crianças vão ser abandonadas aos cuidados de um orfanato, não interessa se as crianças serão sujeitas a uma vida de horrores e maus tratos, para eles só importa que têm de nascer. Hipócritas. Não são eles que os vão ter de criar e dar amor.
Quanto à Igreja eu até percebo, os padres não sabem o que é ser pais (aliás, muitos até sabem o que é fazer filhos, e tenho a certeza que muitos pagaram abortos ou os incentivaram), mas insistem em impingir esta falsa moralidade aos seus acólitos.
Para todos estes defensores do não, que comodamente do alto das suas fortunas e boas posições na vida gritam que todos os bébes têm direito de nascer, eu pergunto: Quem são eles para julgar alguém? Tencionam levá-los para as suas mansões em Cascais, criá-los, alimentá-los, vesti-los, dar-lhes educação e amor? Não sei porquê mas não me parece.
Mas ainda o que me causa mais impressão são as mulheres, que mulher pode condenar outra mulher, burguesas de merda a cuspirem postas de pescada eloquentes, pergunto-lhes: quantas foram a Espanha fazer os seus abortos no conforto de clínicas privadas, à luz da lei espanhola, dos direitos de cidadãs europeias e de todo o dinheiro que podem dispender? Quantas não podiam fazer aquilo que dizem e ter tido os seus filhos?
Este referendo só vai servir para avaliar a dimensão da hipocrisia. Jovens e apoiantes do sim, apenas apelo que no dia 11 se dirijam às vossas Assembleias de voto e usem uma pequena cruz como arma de luta contra esta hipocrisia. O não, não pode voltar a ganhar, muito menos por falta de vontade de ir votar. Aqui sim todos os votos são importantes e podem fazer a diferença.