quarta-feira, maio 31, 2006
Estou mortinha por ir trabalhar, até tenho saudades dos chinocas e dos trapaceiros. Estes dias que passaram foram horríveis, não só pelas dores excruciantes que eu sentia, mas também pela angústia de não poder trabalhar, estar enclausurada em casa e limitada nos movimentos. Hoje já me sinto melhor, sinto que me foi devolvida a liberdade.
terça-feira, maio 30, 2006
Em busca dos meus sonhos perdidos
No início era um grande sonho, uma impossibilidade categórica, como se veio a demonstrar. Foi-se apagando com o tempo, transformando-se numa esperança ténue e longínqua. Agora renasceu, para o bem e certamente também para o mal e apesar de toda a minha cautela está a transbordar para fora de mim. Será que algum dia verá a sua realização?
A época das cerejas
"A memória é toda feita de palavres
que, como cerejas, se prendem
umas na outras,
uma Palavracerejeira"
que, como cerejas, se prendem
umas na outras,
uma Palavracerejeira"
Manuel Silva Terra
Voltei, mas só por momentos
Depois de duas semanas consigo finalmente sentar-me e escrever. Muitas coisas ficaram por escrever e documentar nestes dias. Muitas outras ficarão nos próximos. Não tenho vontade de escrever, o meu mundo está todo virado ao contrário e a rodar muito depressa, com abruptas paragens. Não sei o que fazer, não sei se o faça, não sei se as minhas acções podem alterar alguma coisa no que está a acontecer. Estou ansiosa por começar a trabalhar e tirar isto da minha cabeça. Quando conseguir alguma definição talvez consiga voltar às palavras, por agora deixo-vos. Até à próxima.
domingo, maio 14, 2006
Não há nada que não me aconteça
Hoje fui às compras, até aqui tudo normal, quando estava a levar os sacos para casa, aconteceu a fatalidade: escorreguei, caí e rachei o cóxis. Ainda vim para casa, na esperança que as dores alucinantes que eu tinha fossem naturais da pancada que o meu osso tinha dado nas pedras de calçada do passeio. Liguei para uma amiga minha médica para ela me receitar uns analgésicos, mas ela não estava cá e disse-me para ir às urgências tirar uma radiografia, coisa que eu queria evitar a todo o custo, porque ir para o hospital de santa maria é o típico caso de não se morre da doença, mas pode-se bem morrer à espera da cura, aliás do diagnóstico. Tomei coragem e lá fui eu para a aventura que é ir a este hospital, ao qual eu tenho um horror de morte, por todas as razões e mais algumas. A triagem foi rápida, mas depois obrigaram-me a esperar uns quarenta minutos para uma médica me mandar tirar uma radiografia, mais uns vinte para tirar a maldita radiografia, depois mais uma meia hora para chegar ao médico espanhol e ele me dizer que a monga da radiologista se enganou a tirar a radiografia e não dava para ver nada naquela, lá voltei eu ao suplício da radiografia e apesar de me apetecer insultar aquela idiota, não tinha forças para gritar com ela. Finalmente volvidas duas horas o médico deu-me o diagnóstico: rachado. Recomendou-me repouso de duas semanas, receitou-me antbióticos, analgésicos, anti-inflamatórios e pomada e para concluir perguntou-me se tinha coragem para levar uma injecção, respondi, qualquer coisa que me tireestas dores, e assim foi. Para terminar levei uma injecção cuja descrição deixo aqui nas palavras do enfermeiro: daqui a trinta segundos nem se vai lembrar que lhe dói o cóxis. E não me lembrava, aliás não me lembraria do meu nome se mo perguntassem, não conseguia falar ou manter-me nas pernas, mas passado uma meia hora fiquei melhor e aliviaram as dores, que agora começam a voltar.
terça-feira, maio 09, 2006
A marca
Era uma pequena marca
de nascença
herditária
da mãe
do avô
nas costas
na omoplata esquerda
enternecedora
de nascença
herditária
da mãe
do avô
nas costas
na omoplata esquerda
enternecedora
segunda-feira, maio 08, 2006
É tão bom chegar a casa e ela ser um lar
Hoje cheguei a casa e tinha uma bela duma carne assada pronta, até me deu vontade para cortar e fritar umas batatinhas. E para sobremesa, bolinhos. Isto tudo no fim de um bom dia. A lamentar apenas a tua ausência, o teu egoísmo e a tua crónica falta de coragem em concretizar o teu desejo.
sábado, maio 06, 2006
As papoilas
Uma papoila
ergue-se solitária
mas orgulhosa
no meio de um lancil.
Mais à frente
dezenas delas
formam uma mancha
anárquica
de vermelho vida.
Dá vontade de correr pelo campo
e fazer um belo ramalhete
de singelas papoilas.
ergue-se solitária
mas orgulhosa
no meio de um lancil.
Mais à frente
dezenas delas
formam uma mancha
anárquica
de vermelho vida.
Dá vontade de correr pelo campo
e fazer um belo ramalhete
de singelas papoilas.
sexta-feira, maio 05, 2006
As borboletas
Ontem um bela borboleta veio esvoaçar as suas asitas para o meu quarto, depois de desperdiçar um bom bocado do meu tempo a tentar enxotá-la, desisti. Não tinham volvido sequer cinco minutos quando a estúpida se suicidou na lâmpada do meu candeeiro de pé alto, provocando uma fumo intenso e um cheiro desagradável de vida queimada. Apanhei o seu cadáver já sem asas interrogando-me porque terão as borboletas esta fatal atracção pela luz e o fogo que as conduz a uma morte horrível por carbonização?
quinta-feira, maio 04, 2006
Bendito descanso
Estou de folga, apetece-me fazer-lhe um hino, uma canção, uma dancinha. Consegui a minha rotina, não é nem um pouco fácil, desgasta tanto o corpo como o espírito, mas considero uma benção estar morta de cansada do trabalho. De resto é a mesma infelicidade pegajosa de sempre. Quando chegará o meu dia de sol?
segunda-feira, maio 01, 2006
"IGNOTUS
Onde te escondes? Eis que em vão clamamos
Suspirando e erguendo as mãos em vão!
Já a voz enrouquece e o caração
Está cansado - e já desesperamos...
Por céu, por mar e terras procuramos
O Espírito que enche a solidão,
E só a própria voz na imensidão
Fatigada nos volve... e não te achamos!
Céus e terra, clamai, aonde? aonde? -
Mas o Espírito antigo só responde,
Em tom de grande tédio e de pesar:
- Não vos queixes, ó filhos da ansiedade,
Que eu mesmo, desde toda a eternidade,
Também me busco a mim... sem me encontrar!"
Suspirando e erguendo as mãos em vão!
Já a voz enrouquece e o caração
Está cansado - e já desesperamos...
Por céu, por mar e terras procuramos
O Espírito que enche a solidão,
E só a própria voz na imensidão
Fatigada nos volve... e não te achamos!
Céus e terra, clamai, aonde? aonde? -
Mas o Espírito antigo só responde,
Em tom de grande tédio e de pesar:
- Não vos queixes, ó filhos da ansiedade,
Que eu mesmo, desde toda a eternidade,
Também me busco a mim... sem me encontrar!"
Antero de Quental
A vida como ela é
A vida é uma jornada que fazemos a cada dia, pelo tempo, pelos sítios, pelas pessoas e por dentro de nós. O tempo não se compadece nem um segundo, demora-se com as nossas tristezas e apressa-se célere quando usufruimos de momentos felizes. Os lugares em que vivemos e os outros que visitamos perduram na sua própria vida expandido e modificando os seus horizontes, mantendo sempre a sua essência. As pessoas, elas que são o verdadeiro sumo da vida, encontram-se e desencontram-se, alegram-se e desiludem-se, amam-se e desprezam-se, magoam-se muito mais do que se fazem sorrir. E por dentro de nós a interminável tempestade das decepções, das injustiças, das traições, do azar e da sorte, dos sonhos e do amor.