A trama adensa-se e o peso do sonho
vence finalmente o tempo.
Esqueci-me que desaprendi a esperar
choro por me sentir submersa
choro ao ouvir as palavras que tanto desejei
choro por não saber e por não ser ainda.
A angústia da iminência
é violenta e espásmica
não me deixa dormir
não me deixa nada...
Foste tu,
mil vezes ponderei como o faria
quando tivesse o imperativo de o fazer,
ainda conservo esse ter de ser,
a caixa de pandora que abriste em mim.
Queria precipitar o meu temor para o mundo
livrar-me dele, estampá-lo nos jornais,
escrevê-lo a branco no céu azul
deste Verão do exacerbamento.
Até o dia se toldou para chorar
o inferno que desencadeaste
dentro da minha vida interior.
Nunca imaginei estar aqui,
escrever a esta luz, com esta caneta,
neste bloco, deitada nesta cama,
onde vou curando a mazela
do meu barro de humanidade.
O sono das drogas foi interrompido por ti
e assim fiquei aqui, só, nas teias da insónia,
tão perto mas tão longe,
o relevo todo da Gardunha toda entre nós.
Tudo tão indeferido,
tão brumo, porém incandescente,
faz-me vaguear pelo quarto de hotel,
fumo lá fora para absorver o calor
e procurar nas estrelas, aquela
onde ainda estás preso a ti próprio
onde a tua coragem luta para te libertar.
Passam as horas nocturnas lânguidas,
como se teimassem evitar o amanhã.
Ouço por entre o silêncio
a minha emoção mais profunda
que ecoa por entre a memória das palavras
uma mistura inusitada de esperança e medo,
do tormento da dúvida com a certeza do erro,
a incompreensão crónica do amor.
Apenas desejo dormir antes do amanhecer,
desligar este cérebro atordoado
e deixar os sonhos pensarem um pouco por mim.