Não vamos casar !

Detesto casamentos. Detesto particularmente casamentos de Verão. Detesto as filas de carros a buzinar com merdinhas brancas penduradas nas antenas. Detesto a hipocrisia do casamento, do dia, do contrato e da instituição. Se também detestas algumas destas coisas junta-te ao club

domingo, março 13, 2005

Poema da verdade, do passado e do futuro (07/12/2002)

"A verdade era verde
do Sporting,
era um defeito que ela tinha, e hoje,
quando todos lhe atiravam
a derrota em cara,
ela replicava:
"malditos benfiquistas".
Agora está em casa
pálida, meio esbranquiçada,
quase sem cor,
apática, anómica,
triste da sua vida.
Agora,
a verdade é branca.
Ontem,
estava vermelha
de raiva.
Tinha faltado a água
Uns canos rebentaram
e fecharam a água,
em toda a freguesia.
Por todo o lado,era um burburinho de indignação,
maldiziam a Câmara,
o Governo, a vida,
e seguiam a correr,
para qualquer lado,
para fazer qualquer coisa,
talvez trabalhar,
talvez falar ao telefone,
em trabalho, em namoro,
nas aulas, nas compras,
no cinema, nos automóveis,
nos transportes públicos,
por todas as estradas,
dez segundos na hora de ponta.
A verdade caracteriza-se
por mudar de cor constantemente,
em constância,
muitas vezes
e por todas as cores.
De acordo com o barómetro,
que todos temos à flor da pele
(e que deriva de uma perigosa relação
com o sistema nervoso central),
vêem à luz os dilemas.
Todos.
Será que podemos fazer uma hierarquia de dilemas?
Uma bibliografia?
Monografia?
Compilação?
Ou simplesmente catalogá-los
por ordem alfabética?
Possivelmente,
porque a verdade
muda de cor
e está sempre em movimento,
mas existe.
A sua agenda tem
muitas mais horas
que o nosso dia,
mas mesmo assim,
é difícil lidar e resolver,
todos os dilemas ao mesmo tempo.
Nem com horas extraordinárias!
Ainda por cima mal pagas,
Ou por pagar.
É difícil conciliar as coisas.
Muito difícil.
Ah! É verdade!
A verdade fuma
apesar de saber que
fumar prejudica gravemente a saúde,
fumar pode provocar cancro,
fumar faz mal aos fumadores passivos
fumar deixa os dedos,
os dentes e os livros amarelos,
fumar deixa maus cheiros.
Enfim, sempre que a verdade fuma,
fica negra.
Mas o que mais a preocupa,
é o universo inteiro,
a vida inteira,
os pequenos círculos,
as grandes manifestações,
a família,
o Estado,
as empresas,
as igrejas e confissões,
a política,
as políticas da saúde,
as políticas de esducação,
as políticas do ambiente,
as políticas de segurança,
as políticas financeiras,
os impostos (os clássicos!),
A conjuntura mundial,
a União Europeia,
a globalização,
a anti-globalização,
as guerras no Iraque,
no Médio Oriente,
no Afeganistão,
a energia,
o petróleo,
as novas energias
as novas tecnologias
o novo mundo,
as políticas agrícolas,
as pescas,
o mar...
o mar...
Areia, sal, vento.
O mar do Algarve,
o mar das Caraíbas,
o mar Mediterrâneo,
o Oceano Atlântico:
o mar da Figueira da Foz,
da barra de Aveiro,
de Peniche,
e das fronteiras Berlengas,
de Santa cruz, Ericeira,
passando por Sintra,
até Cascais.
A Costa da Caparica,
a Arrábida,
a costa de Melides até Sines,
Vila Nova de Mil Fontes,
e a Zambujeira do Mar,
o mar de Sagres,
o princípio do jogo.
Sim, porque a história de Portugal,
assemelha-se a um jogo civilizacional,
onde nós descobrimos no mapa,
e depois vieram os outros,
e apoderaram-se de tudo,
sendo que, agora,
garantimos a nossa sobrevivênvia,
sob o domínio
de uma entidade superior,
que aliou em bloco,
civilizações ex-inimigas,
e formou a Europa.
Tipo jogo do Risco,
dentro do livro "1984".
A verdade existe em todo o lado,
faz-se e desfaz-se,
em partículas,
por toda a parte.
No fundo, no fundo,
é incolor,
por isso assume todas as outras.
Sempre.