Não vamos casar !

Detesto casamentos. Detesto particularmente casamentos de Verão. Detesto as filas de carros a buzinar com merdinhas brancas penduradas nas antenas. Detesto a hipocrisia do casamento, do dia, do contrato e da instituição. Se também detestas algumas destas coisas junta-te ao club

terça-feira, junho 14, 2005

A morte veio também

Além de tudo ontem ter sido estranho e fútil, trouxe de mãos dadas e passo célere a morte. Primeiro o grande capitão de Abril, o companheiro, se bem que julgo que ele preferíria camarada, Vasco, Gonçalves, e durante a noite, antes ou depois, ou durante o vago temporal o Manuel Tiago, finou a sua prosa quando o seu punho de Álvaro Cunhal morreu. Mas o pior, o mais terrível, (e a minha dor não consegue controlar as lágimas), foste tu, Eugénio, nome também falso que usavas para te ocultar de ti mesmo, eu choro apesar de saber que as tuas palavras e a tua magia vão permanecer entre nós, em todas as toadas dos teus poemas, nas minhas cartas, pelo Fundão dentro e fora, na tua Póvoa da Atalaia e no coração de todos nós que te agradecemos por teres feitos das urgências poesias, mas também das calmas, também das aves, das flores e do júbilo feroz da vida inquieta e sempre fugidia, permanece agora perene na tua morte a eterna saudade dos poemas ditos por ti. Adeus.... aqui deixo algumas das tuas palavras.

"Sou filho de camponeses, passei a infância numa daquelas aldeias da Beira Baixa que prolongam o Alentejo e, desde pequeno, de abundante só conheci o sol e a água. Nesse tempo, que só não foi de pobreza por estar cheio do amor vigilante e sem fadiga de minha mãe, aprendi que poucas coisas há absolutamente necessárias. São essas coisas que os meus versos amam e exaltam. A terra e a água, a luz e o vento consubstanciaram-se para dar corpo a todo o amor de que a minha poesia é capaz. (...)"*

"Agora os nomes que martelam o sono,
turvos ou roídos de poeira:
Póvoa, Castelo Novo, Alpedrinha,
Orca, Atalaia, nomes porosos
da sede, onde a semente do homem
é triste mesmo quando brilha."*

* Eugénio de Andrade, "POESIA, TERRA DE MINHA MÃE"

1 Comments:

  • At 3:02 PM, Blogger shardi said…

    bem deves conhecer que não partilhho o sentimento que sentes, por outros seres de outros lugares e tempos, no entanto sinto a profundidade do teu sofrimento... esse silencioso, que mormura do fundo e que encontramos os seus horrendos ecos á tona. O que escreeveste foram palavras, que podiam ter sido lidas como apenas palavras soltas de sentimentos, mas desta vez não. Cada letra, cada virgula, cada ponto, cada paragrafo... brotam o sentimento que passou neste desastroso dia...

    ficam aqui tambem as minhas condulencias.

     

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